O princípio da intranscendência refletido na arquitetura prisional

a falta de espaços adequados para visitas de mulheres e crianças nas unidades penais masculinas do Brasil

Autores

  • Beatriz Pontes Nogueira Vasconcelos
  • Tarsis Barreto Oliveira Universidade Federal do Tocantins, Palmas, TO, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.48159/revistadoidcc.v8n1.e080

Palavras-chave:

Arquitetura penal, cárcere, fam[ilia, intranscendência da pena, visita íntima

Resumo

O presente artigo tem como objetivo analisar a falta de estrutura para visitas familiares e íntimas nas unidades penais masculinas do Brasil e seus reflexos no ciclo social da pessoa em privação de liberdade, em especial companheiras do gênero feminino e crianças. O princípio da intranscendência afirma que nenhuma pena poderá passar da pessoa do condenado. Ocorre que, apesar de na teoria o instituto da pena possuir caráter ressocializador, a falta de investimento adequado do Estado, em conjunto com a superlotação e escassas oportunidades, traduzem o sentimento de vingança da sociedade frente ao infrator, minando as tentativas de reinserção social. Apesar de os presos serem os principais afetados pela precariedade carcerária e a falta de ambientes próprios para visita das famílias, as visitas ocorridas nas próprias celas, sem qualquer privacidade, são uma maneira indireta de atingir os detentos. O instituto da família tem a importância mencionada em diversos momentos na legislação, porém sua importância parece restringir-se ao lado de fora dos muros das penitenciárias, visto que o Estado não se esforça para criar estruturas que auxiliem na manutenção dos vínculos familiares durante o cumprimento da pena. A metodologia empregada na presenta pesquisa foi o método dedutivo, com abordagem qualitativa do problema, tendo a pesquisa finalidade exploratória, e sendo utilizada como técnica de obtenção de dados a pesquisa bibliográfica.

Biografia do Autor

Beatriz Pontes Nogueira Vasconcelos

Especialista em Ciências Criminais pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Especialista em Direitos Humanos pela Universidade Católica de Brasília e Bacharela em Direito pelo Centro Universitário Católica do Tocantins.

Tarsis Barreto Oliveira, Universidade Federal do Tocantins, Palmas, TO, Brasil

Doutor e Mestre em Direito pela UFBA. Professor Associado de Direito Penal da Universidade Federal do Tocantins. Professor Adjunto de Direito Penal da Universidade Estadual do Tocantins. Professor do Mestrado em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos da UFT/ESMAT. Coordenador e Professor da Especialização em Ciências Criminais da UFT.

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Publicado

2024-02-28

Como Citar

Vasconcelos, B. P. N. ., & Oliveira, T. B. . (2024). O princípio da intranscendência refletido na arquitetura prisional: a falta de espaços adequados para visitas de mulheres e crianças nas unidades penais masculinas do Brasil. Revista Do Instituto De Direito Constitucional E Cidadania, 8(1), e080. https://doi.org/10.48159/revistadoidcc.v8n1.e080